Argentina, nascida em Mendoza, ela morou muitos anos nos países europeus, onde se destacou como artista da ópera. Cangemi costuma dizer que canta como se fosse sua última vez. E ensina que a técnica foi e é decisiva na sua carreira. Nesta noite de domingo, ela foi acompanhada pela Orquestra Barroca Argentina e por um público mergulhado, compenetrado, no silêncio e na emoção. A cada ária que ela terminava de cantar, surgiam, então, os fortes aplausos de pé. Na plateia, era possível ouvir adjetivos como “esplêndida”, “magnífica”, “impecável”.
O concerto barroco chamado ‘Caro Sassone…La música italiana de Handel’ foi uma homenagem ao artista alemão nacionalizado inglês e que morou na Itália – o berço da ópera barroca. ‘Caro Sassone’, explicam os estudiosos, foi o apelido carinhoso que ele ganhou dos italianos – quer dizer, “o querido alemão’. Com sua arte, com seu canto, Verónica Cangemi emociona até os que não entendem de líricas. Ao final do espetáculo, os comentários à saída do histórico CCK eram ainda mais sensíveis: “Me fez chorar”, disse um seguidor da artista.
A cantora estudou a fundo a música que transmite – a história dos seus autores, a história dos países onde as músicas que exalta nasceram e fala sobre o barroco, nas conversas com amigos e profissionais, com simplicidade, amplo saber e de forma natural sobre algo tão complexo para um analfabeto no ramo. Para um brasileiro, é bom saber, por exemplo, como a soprano conhece a obra do maestro Heitor Villa-Lobos. O conhecimento, o talento e a simplicidade foram vistos no palco neste domingo. E o público, entendido ou não, a acompanhou comovido. Cangemi costuma fazer giras internacionais. Oxalá, inclua o Brasil.